Crise leva 11 mil alunos a trocarem escolas privadas por rede estadual

 Crise leva 11 mil alunos a trocarem escolas privadas por rede estadual

Quando o valor da mensalidade R$ 1,2 mil ficou insustentável para o orçamento da família de Emily Queiroz Souza,  17 anos, só havia uma alternativa: trocar a escola particular pelo colégio público. “Fiquei um pouco com receio, mas meus pais conversaram comigo dizendo que o valor não caberia mais no orçamento”, conta a estudante que  cursa o 1º ano do ensino médio.

A realidade de Emily é igual a de pelo menos 11.185 alunos da rede estadual que migraram de escolas do ensino privado para a rede pública. Dados da Secretaria Estadual da Educação indicam que o número é 23% maior do que no ano passado, quando o estado matriculou 9.046 mil estudantes oriundos da rede particular de ensino.

A crise atingiu em cheio o bolso dos pais, até mesmo daqueles que priorizam o investimento em educação. O número de alunos que foram para a rede estadual é maior que o dobro das perdas de matrícula das escolas particulares na Bahia, entre 10% e 12%, assim como a média nacional.

A estimativa é da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) e da Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen). “A migração desses alunos para a rede pública também impactou as escolas que tiveram que reduzir postos de trabalho, turmas, investimentos e até mesmo o salário de professores”, afirma a diretora da Fenep, Amábile Pacios.

O presidente da Confenen, Roberto Dormas, confirma o cenário. “O pai até quer, mas não tem como manter o filho em uma escola particular”.

Orçamento no vermelho
O corretor Edinei Souza, pai de Emily, cortou ao máximo as despesas antes de decidir colocá-la na escola pública.

“Além da mensalidade, tinha o custo do módulo, que ficaria por R$ 1,8 mil. Ela viu a dificuldade e entendeu que a mudança era necessária”, diz.

As contas também apertaram na casa da estudante Keren Brito, de 16 anos. A situação financeira fez com que ela mesmo tomasse a iniciativa de mudar para a rede pública.

“Tinha uma meia-bolsa no colégio onde estudava, mas ainda assim minha mãe fazia uma esforço muito grande para manter a escola em dia”.

Outro que mudou o endereço da escola foi Gabriel Cunha, de 16 anos. “Para mim foi tranquilo, porque sabia que minha mãe estava sem condições. Ela sentiu mais a mudança e até chorou”.

A auxiliar financeira Luciene Cunha, mãe de Gabriel, não nega que foi difícil.

“A despesa ia aumentar. Pesquisei muito e busquei recomendações para ter certeza de que estava fazendo o melhor para ele”, assegura.

Bahia em Debate

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