TRAGÉDIA NA SOLEDADE
Era só mais uma noite na casa da família Deminco, a número 144 da Ladeira da Soledade, na Liberdade. Na sala, a filha do meio, a autônoma Simone, 37 anos, se preparava para ensinar a tarefa da escola ao filho, Juan, 12. Em outro cômodo, nos fundos do imóvel, o aposentado José Prospero, 73, assistia à novela das 21h com a filha mais nova, a professora Ana Paula, 34. Já o primogênito, Paulo Ricardo, 44, deu boa noite ao pai e às irmãs e foi dormir, tinha acabado de chegar do trabalho. As descrições acima são as únicas lembranças de Simone Carreiro Deminco sobre o desabamento de um casarão histórico, não habitado, que caiu sobre a casa da família, por volta de 22h, nesta segunda-feira (24). Para a autônoma, que perdeu o pai e dois irmãos, escapar com vida foi um milagre. “Só deu tempo de pegar meu filho e sair pela janela. Minha vida acabou, como vou viver agora? Se eu tivesse lá no fundo, teria morrido junto”, disse ao CORREIO, acrescentando que a matriarca da família morreu há cerca de um mês.
Soterrada, Ana Paula Carreiro Deminco chegou a gritar por socorro durante minutos, segundo relatos. Moradores contaram à reportagem que acreditaram na sobrevivência dela, mas, por volta de meia noite, a mulher, que estava de visita na casa do pai, foi a primeira a ser retirada pelo Corpo de Bombeiros, já sem vida. Em seguida, foram constatadas as mortes de de José Prospero Deminco, que se tratava de dois AVCs, e Paulo Ricardo Carreiro Deminco – resgatados do local já na madrugada, por volta de 4h. Com ferimentos leves, Simone e o filho foram socorridos para o Hospital Geral do Estado (HGE) e, em seguida, liberados.
Após ter alta, na manhã desta terça-feira (25), a autônoma fez questão de voltar ao local do acidente. Em frente à casa em que morou por mais de 25 anos, ainda com o olhar perdido, a sobrevivente parecia avaliar o que restou. Escombros, roupas rasgadas, pedaços de móveis e saudade. Aflita, com escoriações por todo corpo, ela andava de um lado para o outro chamando por Billy, o cachorrinho da família, um poodle. Simone chegou a entrar no que restou da casa mas não encontrou o animal.
“Eu preciso que alguém busque ele lá, eu sei que ele está vivo, posso escutar o latido dele, coitado”, repetia, em tom de esperança. Até o fechamento desta edição, o cão ainda não havia sido encontrado. Na manhã desta terça, toda extensão da Ladeira permanecia interditada pela Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador), com tráfego desviado a partir do Largo da Soledade.