Com festas populares, igrejas e terreiros, turismo religioso atrai visitantes para Salvador no primeiro mês de 2024

 Com festas populares, igrejas e terreiros, turismo religioso atrai visitantes para Salvador no primeiro mês de 2024

O verão em Salvador é marcado pelas festas populares, que ocorrem nos largos e ruas da cidade, do começo de dezembro até o fim do Carnaval. Ocorre que, ao mesmo tempo em que muitas pessoas procuram essas celebrações pela diversão, todas possuem também originalmente um profundo significado religioso e espiritual. É a mistura do sagrado com o profano, eternizada em música, que define tão bem eventos como a Lavagem do Bonfim e a Festa de Iemanjá.

Em razão disso e de tantos outros roteiros religiosos – afinal, Salvador tem mais de 370 igrejas católicas seculares – este tipo de turismo, movido pela espiritualidade, tem atraído cada vez mais adeptos à capital baiana. São visitantes que também aproveitam o primeiro mês do ano para conhecer, por exemplo, o Caminho da Fé e todo o legado deixado por Santa Dulce dos Pobres na cidade.

Caminho da Fé – Em Itapagipe, com 1,1km de extensão, entre os bairros de Roma e Bonfim, o Caminho da Fé tem sido um dos destaques para baianos e turistas. Como diz o ditado, “quem tem fé vai a pé”: todos são convidados a caminhar pelo percurso, guiados por 28 totens explicativos.

São 14 referentes à história de Santa Dulce dos Pobres e outros 14 sobre a devoção ao Senhor do Bonfim. Com isso, os visitantes poderão passar pelo Caminho da Fé conhecendo um pouco da história de devoção que proporcionou a esse local específico da capital baiana uma importância religiosa tão grande.

É no Caminho da Fé, inclusive, que fica a Basílica Santuário Senhor do Bonfim, que em toda segunda quinta-feira de cada ano celebra o santo homônimo, atraindo uma multidão à Colina Sagrada, na Cidade Baixa. O cortejo reúne quase 1 milhão de pessoas entre o Comércio, com saída da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia até a Colina Sagrada, finalizando na Igreja do Bonfim.

Seja para agradecer ou amarrar sua fitinha nos gradis da igreja, fazendo os tradicionais pedidos a cada nó dado, a festa reúne manifestações populares e muita música, com boa parte dos fiéis vestidos de branco ou azul. Além disso, no adro da igreja, as baianas lavam as escadarias, em uma cerimônia conjunta com a bênção do Padre Edson Menezes, reitor da basílica.

Fortalecimento – Pensando em impulsionar o turismo religioso, a Prefeitura de Salvador, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult) lançou, em 2022, através de uma parceria com a Pastoral do Turismo (Pastur) da Arquidiocese de Salvador, a Web Série “Caminhos de Fé” que consiste em uma série de três episódios gratuitos, na internet, trazendo roteiros imersivos que vivenciam igrejas, santuários, museus e templos católicos em Salvador. O conteúdo ainda pode ser acessado no canal do Visit Salvador da Bahia (YouTube), pelo Instagram (@visitsalvadordabahia ) e no portal www.salvadordabahia.com.

Os filmes trazem uma linguagem poética e atual, despertando a vontade tanto de devotos quanto de curiosos, de conhecerem os lugares apresentados. Estão na websérie quase 30 destinos, todos com descrição de localização, uma forma de estimular a visitação dos locais. Também foram produzidos roteiros de cada episódio com todas as informações importantes, facilitando futuros passeios dos visitantes.

Além disso, todos os locais envolvidos estão como experiências no portal, matérias individuais com conteúdo aprofundado e atualizado. O projeto ainda contempla a produção fotográfica de cada locação, uma forma de catalogar e contar essas histórias também através de imagens.

A Prefeitura também recuperou diversos equipamentos e espaços históricos que fazem parte do nosso patrimônio cultural e religioso, aliado à forte campanha de marketing digital. Uma das obras recentes foi a requalificação do Largo da Lapinha, onde está localizada a Igreja da Lapinha, onde ocorre todos os anos, entre os dias 3 e 6 de janeiro, a Festa de Reis.

Sagrado e Profano – É no mês de dezembro que começa o ponto alto do turismo religioso. As festividades começam com o dia de Santa Bárbara, ou Iansã no candomblé, em 4 de dezembro. Com os fiéis tradicionalmente trajando vermelho, o dia começa com uma missa na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, seguida de uma procissão pelas ruas do Centro Histórico em direção à Baixa dos Sapateiros.

Em 8 de dezembro, é a vez da padroeira da Bahia, Nossa Senhora Conceição da Praia. A festa religiosa é considerada a mais antiga do Brasil, comemorada desde 1550.

A protetora dos olhos, Santa Luzia, é festejada no dia 13 de dezembro. A festa dela acontece na região do Pilar e acontece desde o século XX.

No dia 27 de janeiro, ocorre a Festa de São Lázaro, em homenagem ao santo católico, mas de forte expressão também no candomblé. Nela, é homenageado o orixá Omolu com lavagem da escadaria da Igreja de São Lázaro, velas acesas e banho de pipoca. A programação inclui missas às 7h, 11h e 17h, todas celebradas no Santuário de São Lázaro e São Roque, na Federação.

No dia 2 de Fevereiro, o Rio Vermelho se enfeita de azul e branco para saudar a Rainha do Mar. É neste dia que baianos e turistas se reúnem para a Festa de Iemanjá. O ponto alto é a entrega dos presentes à orixá em balaios especiais, que são conduzidos ao mar.

E em todo ano, na última quinta-feira antes do Carnaval, a Lavagem de Itapuã faz a festa do bairro homônimo, ainda na madrugada, com o som do Bando Anunciador. A alvorada de fogos anuncia o nascer do sol e a pré-lavagem da escadaria de Nossa Senhora da Conceição de Itapuã pelos moradores do bairro.

Terreiros – Além das igrejas e do Caminho da Fé, os terreiros de Candomblé de Salvador também guardam belezas e atrativos singulares.

Os templos das religiões afro-brasileiras, como candomblé e umbanda, são endereço certo no circuito turístico. Os quase 1,2 mil terreiros estão espalhados por toda a cidade. Destes, pouco mais de 700 são cadastrados pela Secretaria Municipal de Reparação (Semur).

Na lista dos mais visitados, figuram o Ilê Iyá Omi Àse Iyamasé, também conhecido como Terreiro do Gantois, na Federação. Com aproximadamente 3.600 m², o espaço sempre esteve aberto para receber gente de todas as origens e classes sociais. A entrada é gratuita, de terça a sexta-feira das 9h às 12h e das 14h às 17h, e aos sábados das 9h30 às 14h.

Outro destino que atrai turistas é o terreiro Kalè Bokùn, em Plataforma. O templo possui rituais específicos que exaltam o poder ancestral feminino. Além disso, possui um patrimônio ambiental forte, envolvendo fonte, árvores centenárias, além de folhas sagradas.

A casa é referência da memória do babalorixá Severiano Santana Porto, que implantou o templo no Subúrbio Ferroviário, assim como aqueles que deram continuidade ao seu trabalho, como a atual ialorixá Vânia Amaral. O templo está ligado à história do bairro de Plataforma, um dos mais antigos de Salvador, local de grande expressão da população afrodescendente e de concentração de casas de candomblé.

Resultado – Todo ano, 5 milhões de pessoas visitam a Bahia em nome da fé. E Salvador é o principal destino de toda essa gente.

A movimentação econômica do turismo religioso gira em torno de R$1,8 bilhão na Bahia. Isso porque cada turista gasta, em média, R$182 por dia. Em âmbito nacional, o turismo religioso é responsável por movimentar R$20 milhões de viagens em mais de 300 destinos brasileiros, gerando mais de R$15 bilhões por ano e sendo, inclusive, um grande incentivador de pequenos negócios e investimentos. Os dados são do Ministério do Turismo.

Bahia em Debate

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